terça-feira, 11 de abril de 2017

É o país que temos...

Não me interpretem mal, eu adoro o meu país: tem óptima comida, óptimos sítios para visitar, é um país pacífico, as pessoas são porreiras, tem tradições lindas mas no que toca a políticas e burocracias, é simplesmente um desastre. Eu costumo dizer que Portugal está a regredir e que não consegue evoluir, parece que estancou no tempo. A culpa é da má gestão do país, como é que um país pequeno, com tanto para oferecer, desde turismo, a comércio, a gastronomia e por aí fora, não desenvolve?! As pessoas mais jovens querem ir embora, porque seja lá o que for que estudem cá, não tem saída, nem tem futuro. Pois bem, hoje vou falar-vos de uma situação que provavelmente já aconteceu com várias pessoas. Desta vez passou-se comigo e com a minha família e assim, pude perceber o ridículo que é a burocracia neste país e posso dizer, que me sinto revoltada. Vamos começar pelos hospitais: após um ano ou mais, em consultas e exames a tudo e mais alguma coisa, nada foi diagnosticado ao meu pai, por vezes ficava internado mas nunca conseguiam dizer em concreto o que ele tinha. Evolução no seu estado de saúde, não havia, mas continuavam a mandar fazer exames e análises a torto e a direito, sempre através do mesmo hospital. Já com dificuldades em andar, não deixámos de o levar a fazer tudo. Por duas vezes esteve internado no dito hospital, uma das vezes com anemia e outra devido a falha de um dos rins. Passado um tempo estava melhor, voltava para casa, com a recomendação de mais uns tantos exames, muitos deles a pagar (e a pagar bem). Passado tanto tempo, voltou a ser internado no mesmo hospital, mas nunca tinha nada em concreto, só que desta vez ficou lá e o estado de saúde agravava-se mais. De um dia para o outro, foi transferido para outro hospital e em dois dias, tivemos um relatório com mais de 7 complicações: Um mieloma, ou seja um cancro de sangue que já tinha passado para os ossos; Alzheimer; os 2 rins que se estavam a desfazer e por aí fora. Ficou claro pelo médico desse hospital que tinha sido negligência por parte do hospital onde ele tinha estado, tendo pedido inclusive todos os exames e análises que tinham sido feitos lá. Foi-nos dito que não tivéssemos esperança e a verdade é que a degradação foi tão rápida, que se tornou apenas um corpo que estava ali à espera para partir. No entanto, foi mandado para casa, pois é, não havia lugar nos cuidados paleativos e devido à idade avançada e complicações, a quimioterapia e a hemodiálise só o iriam fazer sofrer mais e não aguentaria. Ficou apenas com medicação. Assim sem mais nem menos, sem ninguém conseguir responder concretamente às nossas perguntas acerca de tipos de apoio e o que devíamos fazer a seguir, veio para casa. Tivemos de comprar uma cama ortopédica e uma cadeira de rodas.
Portanto, estamos a falar de uma pessoa que já não se mexia, não falava, não reconhecia ninguém e estava á espera de morrer, por muito que me custe dizer isto. Mesmo assim, essa pessoa tinha de ir a uma junta médica... lá fui eu tratar das coisas com a papelada quase toda atrás (sim, quase toda, porque mesmo assim não chegou para tratar de nada, pois faltavam mais papéis, papéis que comprovassem que a pessoa não se podia deslocar a uma junta médica...). A pessoa que nos atendeu, viu o relatório do médico e disse-me: "Isto aqui até tem coisas a mais..." ao que eu respondi:" Acredite, não tem, estamos a falar de uma pessoa que não se mexe e nem tem já consciência da vida.", ele telefonou para uma doutora, falou com ela e a seguir disse:" Pois, isto para ir uma junta médica ao domicílio, é preciso haver os outros relatórios de tudo o que está aqui, para comprovar." Eu olhei para ele, incrédula e disse: "pois, é possível que eu me tenha esquecido de algum exame, visto que há mais de um ano que ele faz exames e análises, mesmo não tendo servido para nada." Por qualquer razão, o senhor deve ter percebido o meu sarcasmo e a sua atitude mudou rapidamente. Embora não pudessem fazer nada sem a papelada toda, deu-me os formulários para levar preenchidos quando lá voltasse com o resto dos papéis. Isto para não dizer, que além disto, ainda iría-mos pagar para a junta médica ir lá, pelo que nos foi dito. Não voltei lá, porque o meu familiar morreu entretanto.
No fim, não sei o que é mais ridículo: o jogo do empurra dos assistentes sociais, que nunca sabiam de nada; a negligência médica ou a burocracia toda, mas sei o que não pode acontecer neste país: não fiquem doentes nem estejam a morrer, pois os apoios só vão ter se tiverem muito dinheiro e não interessa se descontaram uma vida inteira, o tratamento é igual e não têm mais regalias por isso. Infelizmente foi o que eu deduzi no fim disto tudo. Por isso, faz-me tanta confusão, como é que um país destes, pequeno, precisa de tantos políticos e companhia, queixam-se que o país está mal de dinheiro e pedem às pessoas para fazer esforços financeiros e sacrifícios, no entanto eles não deixam de ter carros e motoristas pessoais, computadores para brincarem no parlamento enquanto se discute a situação do país, ordenados que não justificam o trabalho que fazem e as decisões que tomam; casas pagas; pensões vitalícias e acumuladas e por aí fora. Realmente, como é que este país há-de crescer se há tanta gente a meter ao bolso enquanto o povo trabalha, já nem para poupar para os filhos, mas para conseguir pagar as contas e comer.

protega-se

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